O menino Rafael Mateus Winques, de 11 anos, morto pela própria mãe em um crime cercado de mistério, era considerado pelos professores de sua escola em Planalto (RS) como um aluno exemplar.
Dentre os meninos, era considerado o melhor da turma. "O Rafinha, como a gente costumava chamar ele em sala de aula, sentava na primeira classe, era um menino meigo, educado, querido. Era o xodozinho da turma. Um guri de fácil amizade. Tímido, bem reservado, mas um guri que nunca teve problemas na escola. Nunca se envolveu em brigas com colegas. Bem na dele, bem tranquilo", conta uma professora.
Veja as contradições na morte do menino Rafael
Além disso, os professores da escola de Rafael contaram que ele era um menino calmo e tranquilo, que não dava trabalho. Segundo uma professora da escola em que o menino estudava, Rafael não tinha característica de um "pré-adolescente revoltado que pudesse ter fugido".
"Mas a gente também não consegue acompanhar as quatro paredes dentro de uma família", afirma ela.
Mãe confessa crime e está presa
A mãe de Rafael, Alexandra Dugokenski, de 32 anos, prestou novo depoimento em delegacia da capital gaúcha. Ela chegou a fazer uma primeira confissão, mas sua defesa pediu à polícia que anulasse esse primeiro relato e o retirasse o processo dos autos. Alexandra está em prisão preventiva em uma penitenciária de Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre.
Segundo a versão de Alexandra, o menino estava agitado e, por isso, ela lhe deu comprimidos de calmante para dormir. Quando percebeu que ele estava morto, ficou assustada e escondeu o corpo. Porém, o laudo preliminar da perícia desmente esse fato, apontando asfixia como causa da morte.
Na versão da mãe, o menino morreu por excesso de remédio para dormir, que ela deu a ele por estar muito agitado. Mas a perícia realizada no corpo de Rafael aponta como causa da morte asfixia por estrangulamento.
Essa é uma das contradições dos depoimentos prestados por Alexandra, que teria afirmado, ainda, que Rafael teria uma "personalidade difícil", o que foi desmentido pelos professores da escola onde o menor estudava.
"Jamais. O Rafa não tinha essa característica de ser nervoso. Em situação desconfortável ele se reprimia e ficava quieto no canto dele. Era mais fácil ele ficar triste do que nervoso", afirma uma professora que acompanhava o menino.
Polícia investiga se há mais gente envolvida na morte de Rafael
Reabertura de inquérito
A defesa da mãe alega que ela não tinha a intenção de matar o filho, e que a corda encontrada ao redor do corpo do menino teria sido usada para arrastar o corpo.
"Se fala muito da corda, que trouxe o estrangulamento, pouco se falou que essa corda estava amarrada nos pés, isso é importante, a questão do remédio, tudo isso fecha a lógica de homicídio culposo", afirma Jean Severo, advogado de Alexandra.
Além de investigar o caso de Rafael, a polícia também deve reanalisar o inquérito da morte do primeiro marido de Alexandra, que morreu em 2007, por asfixia, mesma causa do menino. Na época, o caso foi tratado como suicídio.
Para o delegado Joerberth Pinto Nunes, que acompanha o caso, não é possível, ainda, estabelecer uma relação entre as duas mortes.
"Até o momento, não existe nenhum nexo de casualidade entre os acontecimentos. Nos estamos com cópia do inquérito simplesmente pra fazer uma breve análise, mas a polícia civil já concluiu esse inquérito lá em farroupilha, e nos recorremos aos autos só pra se ter mais um elemento de investigação."
Alexandra morava com os dois filhos, um adolescente de 16 anos e Rafael, de 11 anos, numa casa simples, de tijolos à mostra, em um bairro humilde de Planalto.
O menino tinha pouco contato com o pai. Costumavam se falar pelo celular, já que o pai de Rafael mora longe, na Serra Gaúcha. O tio e a avó do menino, que moram em frente à sua casa, davam apoio a ele.
"Ele ficava muito dentro de casa no telefone, mas chamava ele pra jogar bola ele corria, se sujava . Era uma criança normal, assim, era um piá que, não tem dizer o quanto ele era parceiro, gente boa, um cara... Vamos lá com o tio lá! Ele vinha, montava na moto, ia, gostava", conta Alberto Cagol, tio de Rafael. "Nossa! Era um baita de um parceiro pra mim", lembra ele.
De acordo com os entrevistados, Rafael era um garoto muito reservado com assuntos familiares. A única pessoa de quem falava o tempo todo era a mãe.
"A mãe era a pessoa mais importante que ele tinha na vida. A mãe era o orgulho da vida dele. Ele falava muito dessa mãe, com muito amor, muito carinho. Por viver com a mãe, a mãe era o porto seguro dele. Ele sempre deixou isso bem claro. A mãe era tudo pra ele. Era a rainha da vida dele", relata uma professora.
No último dia das mães, Rafael teria escrito uma mensagem para sua mãe. "Ele veio, deu um abraço, colou na mãe e falou: 'mãe, eu te amo muito, muito, muito'. Ele era muito carinhoso. Era um piá que mãe dizia 'Rafa, te amo muito, muito, muito, também', afirma Alberto, tio do garoto.
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