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'Não tenho raiva', diz grávida sobre motorista de app após perder bebê

Daiany, 31 anos, tem 3 filhos
Daiany, 31 anos, tem 3 filhos Arquivo Pessoal

A cabeleireira Daiany Franco, de 31 anos, revelou nesta sexta-feira (28) não sentir raiva do motorista de aplicativo que se recusou a seguir a viagem até o hospital da zona sul de São Paulo, no último dia 21 de agosto, por receio de que o sangramento da gestante manchasse os bancos do carro.

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"Sinceramente, não tenho raiva. Só queria entender o por quê daquela atitude. Mesmo que eu já tivesse perdendo o bebê, a atitude dele de me deixar ali naquele lugar [um posto de combustíveis] com sangramento fez com que ele se agravasse mais. De repente, eu poderia ter uma hemorragia interna. Espero que ele verdadeiramente se arrependa para que não carregue essa culpa, dúvida ou incerteza que o fato de não ter me levado ao hospital possa ter ajudado na perda do bebê", declarou.

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A mulher, que estava na 13ª semana de gestação, havia pedido o auxílio da mãe, Rita de Cássia Fernandes Franco, que mora no mesmo prédio, para acompanhá-la até uma unidade médica. Elas elas optaram por solicitar o serviço de transporte por app porque acreditavam que não se tratava de algo grave, mas a situação se transformou em uma emergência durante o trajeto.

Apoio

Casada e mãe de três filhos — uma adolescente de 13 anos, um menino de seis e outra menina de três anos —, Daiany disse que está se recuperando bem das consequências físicas e psicológicas do aborto espontâneo. "Está tudo bem. A criançada e o esposo não me deixaram ficar triste. O momento mais difícil é à noite, quando questiono algumas coisas", comentou.

Daiany também revelou que tem recebido apoio de várias pessoas sensibilizadas pela repercussão do caso. Tais demonstrações têm servido de incentivo para superar o trauma. "Tenho recebido bastante mensagens de carinho e conforto. As pessoas estão me passando bastante força. Aos poucos, vamos nos reerguendo e vencendo essa etapa".

Desempregada na pandemia

Demitida de um salão de beleza em que trabalhava havia 12 anos na rua Augusta, região central da capital, em razão da crise econômica gerada pela pandemia do novo coronavírus, a cabeleireira decidiu montar um negócio próprio de venda de açaís no copo para ajudar nas contas da casa.

Ainda com alguns cuidados especiais devido ao resguardo e aos medicamentos receitados após o aborto, ela retomou a rotina de trabalho. A mulher conta com  apoio do marido, que trabalha como controlador de acessos durante à noite, mas pretende tirar a habilitação para comprar uma moto e fazer entregas.

"Ajudo a minha filha. Ela e o meu esposo estão fazendo [os açaís no copo]. Tem coisas que não estou fazendo por causa da quarantena. A minha mãe, como está afastada do trabalho, tem vindo fazer algumas coisas para mim. Ainda sinto um pouco de cólica, dor de cabeça. Mas, devagar vamos voltando ao normal", complementou.

Indenização

Daiany Franco registrou um boletim de ocorrência no 98º DP (Jardim Miriam) por omissão de socorro e pretende pedir indenização pelo ocorrido. Um advogado foi contratado pela família para acompanhar o caso. A investigação será realizada pelo 95º DP (Heliópolis).

Na última quinta-feira (27), ela realizou exame de corpo de delito no IML. Enquanto isso, a mãe foi até o Hospital do Ipiranga, onde Daiany foi atendida, para solicitar um laudo médico. O documento deverá ficar pronto no dia 18 de setembro.

"Infelizmente, vamos dar continuidade ao processo que não deve recair sobre ele [motorista], mas sobre o aplicativo. Eles divulgam que os motoristas são preparados, mas não são. Muitos são grosseiros, não são atenciosos. A pessoa está levando vidas e tem uma atitude desumana. Que seja feita a justiça de Deus e dos homens também", finalizou Daiany Franco.

Outro lado

O aplicativo de transporte 99 emitiu uma nota à imprensa na qual afirma "profundamente entristecido" com a grave denúncia feita pela passageira. Segundo a empresa, o perfil do motorista foi bloqueado assim que tomou conhecimento do episódio. Uma equipe foi mobilizada para oferecer todo o apoio necessário à mulher.

Ainda segundo o texto, o app "reitera seu repúdio ao ato de desrespeito e trabalha constantemente para promover relações de gentileza e profissionalismo entre os usuários. Em comportamentos como esse, que vão contra os Termos de Uso da plataforma, o perfil do condutor é bloqueado".

Por fim, a 99 garantiu que está disponível para colaborar com as investigações da polícia — em conjunto com o hospital que prestou atendimento à passageira —para o esclarecimento dos fatos.



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