Em 2009, o Ministério da Saúde em parceria com a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) divulgou a primeira pesquisa nacional sobre a morte súbita causada por arritmias cardíacas, e naquela época se constatou a morte de 2.012 mil pessoas por ano, sendo que 90% dos casos foram ocasionados por arritmias tratáveis. Já em 2017, este número subiu para 320 mil mortes súbitas por ano.
A morte súbita pode ser definida como uma morte repentina ou não esperada, em adultos e crianças, sem nenhum sintoma ou sinal aparente. Este tipo de ocorrência pode acometer pessoas saudáveis, doentes, sedentárias ou mesmo atletas. De forma geral, a morte súbita pode não oferecer sintomas, mas quando os mesmos são sentidos, aparecem pouco antes de que a morte aconteça.
De acordo com a cardiologista e especialista no tratamento de arritmias cardíacas, Karina Cindy Ladeia de Oliveira, ainda que a morte súbita ocorra raramente em pessoas jovens ou em atletas, é preciso que sua ocorrência seja investigada de forma criteriosa. “A identificação da causa da morte permite que a família do paciente tenha um entendimento da tragédia inesperada e também avalie os riscos que podem se estender a seus membros. É muito importante se falar em morte súbita pois seu impacto é profundo na sociedade e meio médico”, afirma.
Em conformidade com as novas diretrizes para a abordagem de pacientes com arritmias ventriculares e prevenção da morte súbita publicadas pela Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC, sigla em inglês), Karina Cindy, aponta que cerca de 50% das paradas cardíacas ocorrem em indivíduos que desconhecem alguma doença cardíaca subjacente. Segundo a médica, na maioria das situações, estas pessoas sofrem de doença coronariana oculta. “Em relação às doenças cardíacas associadas a ocorrência da morte súbita, as causas e sintomas se manifestam de maneira distinta entre jovens e pessoas mais velhas”, esclarece.
Segundo a cardiologista, das causas de mortes súbitas em pessoas mais jovens, predominam as doenças genéticas como as miocardiopatias e canalopatias “Em ordem decrescente de frequência, estão as miocardiopatias hipertróficas e todas as suas variantes; as anormalidades congênitas das artérias coronárias; e a ruptura da aorta ocasionada pela síndrome de Marfan ou Aracnodactilia”, comenta.
Karina afirma que dentre as causas menos comuns de morte súbita entre jovens, estão as miocardites e o abuso de substâncias que podem levar a arritmias malignas, como alguns medicamentos ou drogas ilícitas, por exemplo, a cocaína; maconha; ecstasy; crack; suplementos nutricionais com excesso de cafeína; remédios para emagrecer que possuem em sua fórmula anfetaminas, hormônios tireoidianos e diuréticos, dentre outros. “A displasia arritmogênica do ventrículo direito, o espasmo arterial coronariano, e até mesmo, o prolapso de válvula mitral, também são causas raras de morte súbita em jovens”, explica.
Por outro lado, a cardiologista afirma que em pessoas mais velhas, a principal causa de morte súbita é a doença arterial coronária, que vem crescendo nos últimos anos dentre homens assintomáticos com idades entre 30 e 55 anos. “Nestes casos, a realização de um simples teste ergométrico pode auxiliar no diagnóstico. As pessoas que estão nesta fase da vida devem ficar atentas a sintomas como palpitações, dor torácica induzidas pelo exercício físico, e a sincope (desmaios)”, afirma.
Conforme a cardiologista, outros fatores que também podem alertar para o risco de uma morte súbita são as alterações eletrocardiográficas sugestivas de doenças; a insuficiência cardíaca com o comprometimento da função ventricular; a doença arterial coronariana; a hipercolesterolemia familiar (HF); o histórico familiar de morte súbita; e o histórico clínico de síndrome de Marfan. “É preciso ressaltar que a observação do histórico clínico familiar, a realização de exame físico, e a identificação de sintomas e fatores de risco, podem dar o aval necessário para que os pacientes possam praticar atividades físicas sem riscos significativos, assim como evitar a morte súbita”, acentua.
Já exames mais complexos, como por exemplo, a ecocardiografia, são indicados para pacientes com suspeita de alguma patologia, que pode ser agravada pela prática da atividade física. “É importante ressaltar que além de aconselhar o afastamento de atividades esportivas a um paciente com propensão a morte súbita, ainda é necessário avaliar se o mesmo tem indicação de implante do cardiodesfibrilador, para que o mesmo também esteja protegido de riscos durante os esforços diários” diz.
Por fim, Karina Cindy informa que o uso dos desfibriladores implantáveis foram um marco na prevenção primária e secundária de morte súbita em pacientes de alto risco, pois, a fibrilação ou a taquicardia ventricular (arritmias malignas) é uma das principais causas de morte súbita em pacientes com miocardiopatia hipertrófica (MCH) ou aterosclerose coronariana grave.
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